sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

6 coisas que todo fã de Rap PRECISA entender de uma vez por todas

Infelizmente, o verdadeiro conceito de rap é totalmente deturpado no Brasil, e pessoas falando o que não sabem com convicção, que é um caso recorrente, só pioram a situação. Ao longo de todos esses anos acompanhando a cultura e lidando com o Rap24Horas, já presenciamos uma grande série de pérolas absurdas que desconstroem completamente a verdade do gênero, e simplesmente não podemos deixar as coisas fluírem dessa forma.

Tomando conhecimento de todo esse cenário caótico repleto de informações falsas e imprecisas sendo replicadas aos 4 cantos, resolvemos montar essa artigo, nos quais esclareceremos alguns dos maiores mal entendidos sobre a música rap.



Rap NÃO é música de protesto e contra o sistema


Apesar de muitos artistas usarem o rap como ferramenta de protesto e para lutar contra o sistema, o gênero não foi criado com esse intuito. Na Jamaica, que é onde temos o registro mais profundo de raízes do gênero, mc's subiam em caixas de som para rimar sobre os mais variados assuntos como forma de entretenimento. Tinha sim gente criticando o governo, a polícia e o sistema em seus raps, mas também tinha gente tirando uma onda, rimando sobre sexo, drogas, e o que lhe era conveniente.

Assim como ocorreu no Brasil, nos Estados Unidos o rap surgiu como um gênero usado para agitar festas nas periferias, as letras eram bem bobinhas no começo, mas conforme o passar dos anos, elas foram tomando uma forma mais complexa. Na mesma época em que tínhamos Public Enemy, tínhamos LL Cool J, antes de Racionais Mc's, tínhamos Pepeu.


A pauta de um Rap não é critério para medir sua qualidade


Muita gente descredita grandes artistas como: 50 Cent, Lil Wayne, Jay Z, Drake e outros importantes nomes da cultura por eles rimarem sobre dinheiro, sexo, garotas, entre outros assuntos """""fúteis""""", mas isso não é um critério correto. Se esses tipos de pautas não lhe agradam, se você não gosta de grana, garotas, ou seja lá o que for, ok, você tem seu direito, mas não desconstrua o legado de quem faz bem o seu papel.

Uma das graças do rap é justamente a liberdade que cada artista tem em apresentar e discorrer sobre seu universo para convencer seu ouvinte da sua verdade, e se ele conseguir fazer isso bem, ele é bem sucedido em sua missão. A qualidade de um rapper deve ser medida pela destreza das suas rimas e habilidade de desenrolar um assunto, se ele apresentar a vida no crime em suas músicas como algo legal, e conseguir te cativar a ponto de achar aquilo algo fo##, o artista é bom E PONTO. É completamente incrível ver MC's que vivem nos guetos mais negativos do mundo transformarem aquilo em algo reluzente e encantador.


Rap americano não se resume em esbórnia, drogas e ostentação


Muitos fãs de rap e funk nacional tem uma aparente mágoa sem motivos do rap americano, então muitas vezes ao tentar defender sua música, eles apontam o hip-hop americano como algo negativo que só fala de drogas, ostentação e esbórnia, mas as coisas não são bem assim. É evidente que muitos artistas do cenário gringo abordam esses tipos de assuntos em seus singles, que são faixas feitas em demanda com apelo comercial para tocar em rádios, televisão, baladas, e assim atrair e agradar uma grande massa consumidora, mas você já parou para ouvir um CD completo de um rapper americano? Sabe o Lil Wayne, aquele mesmo cara que explodiu com uma música onde ele rima que uma garota quer chupar seu "pirulito" no refrão? Ele também é autor dessa música:

Ao invés de avaliar um artista pelas suas piores músicas, porque não fazer o contrário, conhecer sua obra e qualificar ela pelos seus pontos mais positivos?!



Sexo é abordado de formas diferentes no Funk e Rap


Muitos fãs de funk também defendem seu gênero sobre críticas em relação às pautas usando o rap americano como exemplo, mas isso NÃO TEM NADA A VER. A complexidade lírica do rap é muito maior do que a do Funk, enquanto mc's do gênero brasileiro fazem uma música com apenas 4 frases, como aquela "Pumpa La Pumba" do MC Magrinho, rappers americanos em 99% dos casos abordam o assunto de forma mais inteligente e menos repetitiva, usando jogos de palavras, técnicas gramaticais, metáforas, analogias, etc.

Nada contra o funk, mas inteligência lírica definitivamente não é o ponto forte do gênero. Apenas dê um play na música abaixo, e responda para si mesmo, isso é uma simples música de sexo?

Rap e trap são coisas diferentes


Apesar de ser um sub-gênero do rap, trap não tem a mesma proposta que o rap. Muitos fãs de rap mais convencionais e conservadores, que curtem coisas como: Notorious B.I.G, Tupac, Nas, Jay Z, entre outros artistas, falam que Future, Young Thug, Gucci Mane, Fetty Wap e outros do meio trap são ruins, usando seus ídolos como parâmetro, mas isso não tem NADA a ver. A proposta do trap e do rap são completamente diferentes, o Gucci Mane definitivamente não está empenhado em escrever o próximo Illmatic ou Reasonable Doubt, sua obra caminha para outra direção.

Artistas do meio trap exploram mais a melodia da música, eles trabalham mais em flows, sonoridades, acentuações de beat, energia, do que em letras complexas. O Young Thug, Future, Fetty Wap, Waka Flocka e cia são GÊNIOS no que fazem, e a culpa não é deles se você não sabe apreciar suas obras da devida forma. Também devemos ressaltar o fato de que apesar de não se focarem em cuspirem linhas complexas e cheias de técnicas, "trappers" muitas vezes fazem isso.



Flow bom ≠ Flow rápido


Claro que há muitos bons flows rápidos bem trabalhados, mas um rapper cuspir 60 palavras em 3 segundos não é sinônimo de um flow bom. Um bom flow se resume na engenhosidade e complexidade que um artista usa suas palavras para rimarem e encaixarem na melodia de um beat, independente da velocidade.

Não se impressione com qualquer coisa, nem tudo que reluz é ouro. Quer um exemplo de um bom flow, que não é rápido?


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